Fumar leva à dependência à nicotina. Vários trabalhos abordam a relação entre o fumo e transtornos psiquiátricos. Alguns mostram haver uma associação entre depressão e tabagismo. Pessoas com história de depressão possuem uma dificuldade maior em manterem-se abstinentes do cigarro e sofrem sintomas de abstinência em maior intensidade do que pessoas sem história de depressão.
É a intensidade dos sintomas de abstinência que faz com que os fumantes voltem ao consumo de cigarro? Os estudos feitos nesta área mostram que não existe relação entre a intensidade dos sintomas físicos e psicológicos durante o período de abstinência e a recaída. Até porque geralmente a recaída se faz após o período de maior intensidade de abstinência. Dados estatísticos mostram que 65% das pessoas recaem nos primeiros 3 meses; 75% recaem em 6 meses e, em 12 meses, 80% dos fumantes que tentaram largar o cigarro voltaram a fumar. A recaída, sim, está ligada a presença de sintomas depressivos durante a vida do paciente. Mas existe relação direta, causal, entre depressão e fumo? Até o momento esta associação mantém-se no plano especulativo, com hipótese da presença de um terceiro fator que propiciasse tanto a dependência a nicotina quanto a depressão.
Vários são os trabalhos que tentam relacionar especificamente a relação entre o fumo e transtornos mentais. Mesmo não se tendo nada de conclusivo, o fumo se associa a várias patologias psiquiátricas, especialmente transtornos de ansiedade, esquizofrenia e fobia social. Uma pessoa ansiosa pode fazer uso do cigarro como calmante, ou um fóbico pode encontrar no cigarro um fator de segurança para enfrentar alguma situação.
Da mesma forma que ocorre com qualquer outra dependência química, parar de fumar exige esforço, persistência e um certo grau de sofrimento. Freud, o pai da psicanálise, passou a maior parte de sua vida fumando e provavelmente morreu em consequência deste hábito. Conforme escreveu Peter Gay “o prazer que o uso continuado do tabaco dava a Freud, ou mais precisamente, sua incurável necessidade dele, devia ser irresistível”. Freud admitia ser viciado em charutos. A incapacidade de Freud em parar de fumar ressalta vividamente a verdade contida em sua observação sobre uma disposição extremamente humana. Disposição esta que ele chamou de “saber-e-não-saber” e que seria um estado de apreensão racional que não resulta numa ação compatível. É a mesma experiência que sofre todos os que desejam suspender um vício: saber o quanto determinado hábito é desaconselhável e simplesmente persistir em mantê-lo.
