Fobias Específicas

A palavra fobia vem do grego, phobos, que significa medo. Assim, a fobia específica, antigamente denominada fobia simples, é o medo muito intenso em relação a um objeto, animal ou situação. O fóbico, quando na presença do objeto ou situação fóbica, sente uma ansiedade muito grande acompanhada de sensações físicas, como dificuldade para respirar, coração acelerado, suor, tremor além de outros. Como consequência desta ansiedade, desenvolve-se uma evitação de qualquer situação na qual a pessoa possa ter contato com o objeto/situação fóbica. A fobia é percebida como sem sentido e o medo é visto como exagerado, mas o fóbico não consegue controlar sua ansiedade.

Dependendo da situação que desencadeia o medo, a fobia pode ter um nome específico. Por exemplo: medo de lugares abertos, agorafobia; medo lugares fechados, claustrofobia. Fobias bastante frequentes são as de sangue, animais peçonhentos como aranhas ou cobras e insetos.

Durante muitos anos, tratou-se a fobia com terapia de orientação analítica, onde o objetivo era encontrar o fator inconsciente relacionado ao medo. O resultado desta abordagem terapêutica se mostrou pouco eficaz sendo substituída pela terapia comportamental. Esta abordagem terapêutica se baseia na premissa de que o medo é o resultado de um aprendizado equivocado que leva nosso cérebro a identificar um objeto ou situação como perigosa mesmo sendo inócua, isto é, segura. Frente a esta premissa, à medida que o fóbico vai se expondo ao estímulo desencadeador de medo, este vai se tornando cada vez menos intenso, num mecanismo adaptativo, já comprovado, de dessensibilização. A exposição deve ser feita de forma sistemática e gradual, com o auxilio de um terapeuta treinado. Esta terapia traz resultados rápidos e duradouros. Apesar do mito de que a dessensibilização apenas trocaria o medo de um estímulo para outro, isto é, o fóbico deixaria de ter medo de baratas, por exemplo, e passaria a ter medo de aranhas, isto nunca foi comprovado cientificamente.

Transtorno do Pânico

Pânico é uma crise aguda de ansiedade que se inicia de forma abrupta, sem qualquer fator desencadeante. As características principais da crise do pânico são:

  1. sensação de sufocamento ou de que o ar não entra nos pulmões;
  2. medo de morrer;
  3. tontura;
  4. formigamento das mãos e/ou braços;
  5. enjôo;
  6. aceleração dos batimentos cardíacos;
  7. sensação de que vai desmaiar.

Normalmente o pânico ocorre quando a  pessoa está passando por um período mais estressante ou sob estresse, mas também pode ocorrer em qualquer momento da vida. Pode, inclusive, ocorrer à noite, durante o sono. Devido aos intensos sintomas físicos na crise, normalmente o indivíduo procura atendimento num clínico geral ou cardiologista, não sendo constatada qualquer alteração física.  Após um primeiro episódio de pânico, o receio de que outra crise ocorra pode se tornar persistente, levando  o indivíduo  a controlar quaisquer alterações no seu funcionamento  corporal. Um aumento da frequência cardíaca ou falta de ar, mesmo em situações nas quais seriam  normais, como na atividade física, pode ser confundido como uma ameaça de nova crise. Em alguns casos, este receio é tão intenso que leva  o indivíduo a evitar atividades que desencadeiem estas sensações. Locais mais fechados, como shoppings com muita gente, também podem despertar o medo.  A associação entre a crise e o local onde ela ocorreu pode acarretar numa evitação deste local. Por exemplo, alguém que teve uma crise de pânico num elevador pode se sentir ansiosa ao entrar novamente num elevador, passando a evitá-lo.

Geralmente o pânico se manifesta por apenas uma crise seguida de sensações de ansiedade de menor intensidade, confundidas como novas crises de pânico. Contudo, em alguns casos, as crises podem se tornar frequentes, levando o sujeito a um grande sofrimento.

Atualmente sabe-se que este transtorno tem uma causa biológica cerebral e por isto, o tratamento medicamentoso é necessário para a garantia de que novas crises não irão ocorrer. No caso de permanecer uma conduta muito evitativa, um medo persistente de nova crise ou um controle excessivo das sensações corporais, a terapia cognitivo-comportamental está indicada.

Tratamento do TOC (Transtorno Obsessivo-Compulsivo)

O tratamento do TOC apoia-se em duas abordagens terapêuticas: o tratamento medicamentoso e a Terapia Comportamental.

No que se refere ao tratamento medicamentoso, a primeira escolha são os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina (IRS). São os mesmos fármacos utilizados para tratar a depressão, porém para o TOC são necessárias doses mais altas e a melhora pode demorar até 3 meses para surgir. Infelizmente, somente 30 a 40% dos casos costuma responder à medicação, conforme foi demonstrado em diversos estudos.  Na maioria dos pacientes, a medicação traz uma melhora parcial e apenas 20% ficam inteiramente livres das manifestações da doença. Mesmo aderindo ao tratamento farmacológico, muitos pacientes são totalmente refratários, isto é, não obtém melhora alguma, e outros não toleram os efeitos adversos dos remédios.

O tempo de uso da medicação, uma vez obtida resposta terapêutica, varia de caso para caso, nunca com retirada antes de um ano. As recaídas após a interrupção costumam ser frequentes e, nestes casos, pode ser necessário o uso para toda vida.

A terapia comportamental (TC) é específica para o tratamento do TOC. Baseia-se na técnica chamada de “exposição e prevenção de resposta”. Este tipo de terapia vem sendo utilizada há mais de duas décadas no TOC e diversos estudos já demonstraram sua eficácia. Como o nome da técnica diz, dois procedimentos são os ingredientes essenciais na terapia comportamental: a exposição e a prevenção de resposta. A exposição consiste em expor o paciente a situações ou lugares que desencadeiam suas obsessões ou em ele tocar objetos que costuma evitar. Em seguida, ele deve se abster de realizar os rituais que aliviam o desconforto gerado pela obsessão. Através da terapia, o paciente é ensinado e auxiliado a resistir aos seus rituais. Em casos onde predominam as compulsões, a TC costuma ter resultados bastante promissores, muito acima da medicação.

Em função das limitações inerentes tanto na resposta à medicação como à terapia comportamental, a associação de ambas tem sido recomendada na maioria dos casos para o tratamento do TOC.

O que é TOC?

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo, o TOC, é um transtorno mental que se apresenta de forma bastante variada envolvendo a presença de obsessões e compulsões. As obsessões são idéias, imagens ou impulsos indesejáveis que invadem de forma repetitiva a mente da pessoa. Mesmo não desejando ou percebendo que estas ideias são absurdas, ela não consegue deixar de tê-las. Em alguns casos a obsessão é camuflada e é percebida apenas como “uma sensação de que algo ruim pode acontecer”. As obsessões causam muita ansiedade e desconforto emocional. Já as compulsões aparecem como o resultado da necessidade que estas pessoas sentem de fazer algo para diminuir o desconforto e o sentimento de aversão causado pelas obsessões. As compulsões geralmente são atos repetitivos e estereotipados, realizados de forma intencional, porém sem que a pessoa tenha total controle sobre os mesmos. São reconhecidos como absurdos e interferem significantemente na vida profissional, social e familiar. Alguns exemplos mais comuns de TOC são aqueles relacionados com a limpeza e necessidade de ordem. É a pessoa que, por se sentir suja ou contaminada, tem a necessidade de lavar repetidamente as mãos, não toca em vários objetos, ou quando o faz é com um paninho para evitar o contato, toma banhos demorados, escova excessivamente os dentes e assim por diante. No caso da ordem, é a necessidade de ter tudo exatamente no lugar ou ter os objetos colocados de uma forma específica. Muito frequente também são as compulsões de verificação: olhar várias vezes se o gás de fogão está desligado, se a porta está fechada, refazer várias vezes a mesma coisa para ter certeza de que está bem feito.

Assim, a apresentação clínica do TOC pode variar muito entre as pessoas dependendo da combinação entre obsessões e compulsões. Vai desde a presença de somente obsessões até o predomínio das compulsões.

Dúvidas constantes, lentificação na realização das tarefas diárias, medos e evitações exageradas e o colecionismo podem, também, ser manifestações do transtorno obsessivo-compulsivo.

A prevalência do TOC é em torno de 2,5% da população. Entre crianças e adolescentes a prevalência estimada é de 0,4 a 1%. Este transtorno pode surgir de forma abrupta, após um evento desencadeante, ou insidiosamente, seguindo um curso crônico com evolução variável.  Alguns trabalhos apontam o início precoce como fator de mau prognóstico.

Acumuladores

Existe um transtorno mental no qual a pessoa não consegue colocar nada fora. São os acumuladores. Chamamos este transtorno de colecionismo, e é uma das formas pelo qual o Transtorno Obsessivo-Compulsivo se manifesta.  O indivíduo coleciona inúmeros objetos, alguns especificamente escolhidos e adquiridos. Contudo, com o passar do tempo, as coleções vão aumentando de tamanho a ponto de ficar difícil guardá-las. Associado a isto, existe uma dificuldade muito grande de se desfazer de coisas que não são mais úteis, como jornais e revistas velhos, potes vazios de alimentos, roupas que não servem mais ou fora de moda, sapatos, caixas, e assim por diante. Tudo pode “ser útil um dia” o que torna impossível se desfazer delas. Jogar  fora gera uma ansiedade muito grande. Assim, o número de objetos vai se avolumando e ocupando cada vez mais espaço. Depois de certo tempo, quando todos os armários já estão ocupados, os objetos são colocados em qualquer lugar, tirando espaço para circulação na casa ou convívio social. O acumulador se dá conta que é demais e evita convidar amigos para lhe visitar. Mesmo assim, a ansiedade e desconforto em colocar qualquer um dos objetos fora o impede de fazê-lo. Quando mais pessoas moram com ele, mais precocemente ele procura um tratamento, geralmente obrigado pelos outros. Quando mora sozinho, a doença pode evoluir por anos, chegando a um ponto no qual a vida se resume a disputar espaço com os objetos acumulados dentro de casa.

Para tratamento é necessário o uso de medicação associada à terapia. A terapia mais indicada, e com eficácia comprovada, é a Terapia Comportamental, onde o indivíduo é orientado a ir se desfazendo dos objetos de modo sistemático sem adquirir novos em seu lugar. Normalmente, com o auxílio de outra pessoa para realizar as tarefas combinadas na terapia, se obtém melhores resultados. Como as tarefas costumam gerar bastante desconforto na sua fase inicial é bastante comum o abandono do tratamento.

Transtorno de Ansiedade Social

A timidez, quando muito intensa, a ponto de interferir na vida da pessoa trazendo  prejuízos, pode ser considerada um transtorno: o transtorno de ansiedade social, antigamente chamado de fobia social. O ansioso social evita situações de exposição, desde aquelas mais importantes, como apresentar trabalhos, fazer perguntas em aula, como até situações muito simples, como assinar seu nome na frente de pessoas estranhas, comer em público, pedir informações, etc. Quando expostas a alguma destas situações, a pessoa portadora deste transtorno sente muita ansiedade, acompanhada de sintomas físicos, como coração acelerado, suor, tremores, vermelhidão do rosto, tonturas, náuseas, levando-a a evitar tais situações de exposição. Acabam não apresentando trabalhos, perdendo oportunidades de emprego ou evitando encontros sociais. Atualmente, sabe-se que a ansiedade social é bastante frequente e, geralmente, as pessoas sofrem com seus sintomas por muitos anos sem procurar auxílio especializado (terapêutico), pois não sabem que o que elas têm pode ser uma doença. Consideram-se muito tímidas e se adaptam ao problema. O transtorno de ansiedade social pode ser tratado com terapias específicas e/ou medicações. A terapia mais indicada é a Terapia Cognitivo-Comportamental e geralmente as medicações mais utilizadas são os antidepressivos.

Tipos de ansiedade

A ansiedade é saudável. Sentir-se ansioso pode ser muito importante, e algumas vezes, fundamental para o nosso sucesso. Quem estudaria se não estivesse com medo de rodar? A ansiedade em níveis normais nos ajuda a aprender, aumenta nossa concentração, nossa potência. É a ansiedade normal que os animais sentem quando estão ameaçados, e consequentemente se preparam para lutar ou fugir. O corpo responde moderadamente a fim de aumentar seu rendimento. Contudo, mais uma vez, nem sempre é assim. Às vezes sentimos ansiedade sem motivo, ou existe um motivo, mas a ansiedade é desproporcionalmente exagerada. Ela, a ansiedade, não contribui. Atrapalha. Faz o coração bater forte, suarmos, tremermos. Deixamos de fazer coisas, pois nos sentimos mal. É o que poderia se considerar como uma ansiedade patológica.

Esta ansiedade patológica está dentro de um grande grupo de transtornos, chamados Transtornos de Ansiedade. Estes, manifestam-se de várias formas, sendo que cada tipo tem uma designação específica dentro da psiquiatria.  Quando são ataques súbitos, de início rápido, com muitos sintomas físicos e pensamentos catastróficos, chamamos de pânico. Quando a ansiedade se manifesta apenas em situações em que temos que nos expor socialmente, isto é, falar ou comer em público, parar numa fila, assinar um cheque, chamamos de ansiedade social. Também pode ser uma ansiedade constante, que nos faz nos sentir como uma corda de violão esticada: reagindo a qualquer coisa, brigando, passando mal. É o que chamamos de ansiedade generalizada. E assim por diante. Porque todas estas divisões? Porque especificar cada tipo? Bem, é muito importante o diagnóstico adequado e preciso do que realmente iremos tratar, pois os tratamentos variam enormemente e são específicos para cada uma das ansiedades. Não se trata uma ansiedade social da mesma forma que uma síndrome do pânico. Assim, em primeiro lugar, precisamos fazer uma avaliação completa da pessoa que nos procura por ajuda, determinando com a maior exatidão possível o que ela sente e qual é o seu problema, para aí então falarmos de tratamento. Atualmente contamos com muitos recursos terapêuticos ao nosso alcance. Existem vários tipos de terapia, cada uma delas voltada mais especificamente a um tipo de transtorno; além de um arsenal considerável de medicações, cada vez mais eficazes, com menos efeitos colaterais e riscos.