Suicídio

Casos de suicídio são muito mais frequentes do que a gente imagina. Acredita-se que haja em torno de 804 mil suicídios por ano no mundo. O Brasil é o oitavo país em número de suicídios. Em 2012, foram registradas 11.821 mortes, sendo 9.198 homens e 2.623 mulheres (taxa de 6,0 para cada grupo de 100 mil habitantes). Entre 2000 e 2012, houve um aumento de 10,4% na quantidade de mortes – alta de 17,8% entre mulheres e 8,2% entre os homens. O país com mais mortes é a Índia (258 mil óbitos),  seguido de China (120,7 mil), Estados Unidos (43 mil), Rússia (31 mil), Japão (29 mil), Coreia do Sul (17 mil) e Paquistão (13 mil). Segundo estatísticas da Organização Mundial de Saúde, tirar a própria vida já é a segunda principal causa da morte em todo mundo para pessoas de 15 a 29 anos de idade – ainda que, estatisticamente, pessoas com mais de 70 anos sejam mais propensas a cometer suicídio. O fato da mídia considerar um tabu  falar sobre  suicídio, muito pouco se divulga sobre o mesmo. Acredita-se que ao se falar sobre isto estaria se incentivando as pessoas a cometê-lo. Contudo, é justamente ao contrário. Perguntar a um deprimido se ele pensa ou já pensou em morrer ou se matar dá oportunidade e alívio para esta pessoa falar sobre isto. Várias doenças psiquiátricas estão por trás das tentativas de suicídio, como esquizofrenia, transtorno de humor bipolar e abuso de drogas. Porém é a depressão que mais leva a este desfecho. Muitas das pessoas que se matam ou tentam se matar estão deprimidas. Mesmo quando elas estão com outras doenças graves não psiquiátricas, como por exemplo câncer, elas não se matam porque tem câncer, elas se matam por que ficaram deprimidas por causa do câncer. Da mesma forma, ninguém se suicida porque perdeu o emprego, ou está de luto. As pessoas, como consequência de um evento estressante da vida, desenvolvem depressão e por causa da depressão elas pensam em morrer. Falar abertamente sobre o suicídio é o primeiro passo para o enfrentamento deste grave problema de saúde pública e para o desenvolvimento de estratégias de prevenção.

 

Demência e atividade física

Em San Diego, Califórnia, um estudo piloto com pacientes com demência, demonstrou que programas  de exercícios  que incluem atividades de movimentos físicos associados a exercícios de consciência corporal, como a yoga, tai chi, terapias ocupacionais e dança, aumentavam a capacidade cognitiva e física dos pacientes melhorando sua qualidade de vida e diminuindo a necessidade de cuidadores. Diferentemente de exercícios em que só utilizam movimentos corporais, os que agregam a necessidade de uma consciência corporal produzem um melhor resultado  do ponto de vista cognitivo também.

American Academy of Neurology (AAN) 65th Annual Meeting (Academia Americana de Neurologia 65th encontro anual)

Placebo

Placebo é o termo comumente usado na medicina para descrever o efeito terapêutico de uma substância que é inócua, que não tem nenhuma ação no organismo. Em outras palavras, é a melhora dos sintomas obtida após a ingestão de uma substância sem qualquer efeito, mas cujo paciente acredita ser um medicamento. Esta resposta terapêutica com o uso do placebo aparece quando se testa qualquer medicação para tratamento de qualquer doença. A melhora com uso de placebo advém da confiança e crença do paciente no tratamento recebido, independente do que lhe foi receitado. Assim, mesmo quando se prescreve uma medicação ativa, conhecida pelos seus efeitos no organismo, a resposta a ela será maior ou menor dependendo do quanto o efeito placebo existirá.  Grande parte da melhora será devido à ação do fármaco em si, mas uma parte considerável da melhora pode depender do efeito placebo. Quanto maior o componente emocional para a causa e/ou manutenção da doença, maior poderá ser ação deste efeito. Por isto, uma boa relação com o médico que prescreve a medicação somada à confiança de que o tratamento será efetivo, maior a possibilidade de um bom resultado.

Problemas quando se pensa em emagrecer

Quando alguém decide emagrecer, pensa imediatamente em fazer uma dieta. Com exceção dos obesos e de casos onde o sobrepeso está trazendo algum problema clínico (pressão alta, diabetes) e existe uma necessidade de emagrecer rápido, para os demais a perda deveria ser lenta e constante. Mas a maioria quer se livrar daqueles quilos que adquiriu ao longo de vários anos em alguns meses. Querem resultados rápidos. Jogam-se numa dieta, às vezes a da moda, bastante restritivas, chegando a passar fome. Ou regimes rígidos contando os gramas e calorias de tudo o que come. O início vai bem e o resultado é estimulante. Mas e depois? Por quanto tempo a pessoa consegue manter esta dieta? O que fazer quando atingiu sua meta e alcançou o peso desejado? Voltar a comer como antes e adquirir tudo de novo? Ou quem sabe passar a vida toda “em dieta”.

Quando o assunto é perder peso, pensa-se  na comida. Quanto e o que comer. Porém, muito pouco se pensa em “como comer”.  Quais são os hábitos alimentares, a cultura do indivíduo e qual sua ligação com a comida. Como esta pessoa se relaciona com o alimento. Será que comer não é uma forma de se acalmar? Ou ficar menos deprimido? Ou afundar as mágoas? Ou apenas passar o tempo? Se alguma destas situações for verdade, a dieta não levará em conta isto, e provavelmente não durará. Também, se não pensarmos nestes aspectos acima citados, eles não serão tratados e o que acontecerá? O que fazer com a ansiedade, ou depressão, ou tédio, ou mágoa? Outro aspecto que não se considera inicialmente é a gula. Gula não é fome. Gula é uma vontade muito intensa de comer algo, especialmente doce. Ou a vontade muito grande de comer mais do que precisa. Como controlar a gula?

Comer é um processo que se aprende desde que nascemos. Os hábitos alimentares da nossa família de origem, suas crenças em relação à comida e o significado que davam para o comer, nos é passado muito precocemente. Assim, desde cedo aprendemos a nos relacionar com a comida e dar a ela um significado e um valor. Quanto mais importante comer se torna mais difícil será abrir mão deste prazer. Mais complicado será substituí-lo por outro e mais demorado será aprender a aproveitar o máximo do pouco que se deve comer. Pouco porque o ser humano, com o passar dos anos, precisa comer cada vez menos para viver, até porque a maioria dos nossos alimentos, especialmente os mais gostosos, já contém muitas calorias. Por outro lado, o acesso à comida é rápido e fácil, e comer nos dá muita satisfação. Talvez este seja o grande castigo que a “modernidade” nos trouxe: uma grande oferta de  alimentos cada vez mais bonitos, gostosos e baratos que por sua vez menos podemos comer.

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Insônia

Todos nós sabemos o que é insônia: é a dificuldade de dormir ou dormir mal. Entretanto, poucos sabem que a insônia é um dos transtornos do sono mais comuns na população em geral. Ela pode ser classificada de três formas diferentes:

  1. Pela incapacidade de iniciar o sono, que se chama insônia de conciliação;
  2. Pela dificuldade em manter o sono, que é a insônia de manutenção;
  3. Pelo tempo insuficiente de dormir, causado pelo despertar precoce.

A falta de sono ou a má qualidade dele irá se refletir no dia seguinte, com a presença de irritação, dificuldade de concentração e memória, fadiga e sonolência.

Chamamos de “insônia crônica primária” aquela que não tem relação com  nenhuma   doença ou nenhum fator externo seja a sua causa. Afeta de 10 a 25% da população, porém normalmente estas pessoas não buscam auxílio especializado, convivendo com este problema por anos ou fazendo uso de medicações por conta própria.

A chamada “insônia secundária” é mais comum e está, em geral, associada a diversos transtornos psiquiátricos e/ou mentais, como depressão, ansiedade, abuso de álcool e drogas.

Fatores externos afetam consideravelmente a qualidade do sono. Assim, hábitos ruins podem ser a causa da má qualidade do sono. Dormir em horários irregulares, fazer cochilos prolongados durante o dia, usar substâncias estimulantes, como café, coca-cola, chimarrão, chá preto, próximo à hora de dormir, ter um ambiente inadequado para o sono com luz e/ou muito ruído, e assim por diante. Na medida em que as primeiras noites de insônia ocorrem, o indivíduo começa a ficar receoso de que não irá dormir bem na próxima noite. Esta apreensão e receio de que não irá dormir contribuirá para que realmente ocorra uma dificuldade para iniciar o sono, criando uma crença de que “dormir é difícil”. Este aspecto emocional na hora de deitar pode ser determinante para a demora em iniciar o sono.

A primeira abordagem terapêutica para a insônia é a mudança de hábitos, o que se chama “higiene do sono”. É a modificação de todos os fatores que possam estar contribuindo para a mesma associada a algumas técnicas de controle da ansiedade antecipatória na hora de deitar. Também é necessário avaliar outras doenças, tanto físicas como mentais, que possam estar dificultado o sono. Frequentemente, ao tratá-las, a insônia se resolve.

O uso de hipnóticos, isto é, medicações que induzem o sono, podem ser úteis no início do tratamento. Contudo, o uso continuado destes remédios pode causar dependência. Após um tempo continuado de uso (alguns meses), a medicação vai lentamente perdendo seu efeito de induzir o sono e a pessoa acaba tendo que aumentar a dose. Por fim, mesmo com a dose mais alta, o efeito não é mais o mesmo daquele obtido no início do uso. Quando isto ocorre, a retirada da medicação causa mais insônia ainda, ficando a pessoa refém do uso de um remédio que não ajuda mais. Além disto, estas medicações interferem na capacidade de memória. Especialmente idosos não devem fazer uso das mesmas sem acompanhamento médico.

Agressividade Patológica

A agressividade patológica pode ser dividida em dois tipos: a premeditada e a impulsiva. A agressividade premeditada se caracteriza pelo planejamento prévio do ato agressivo e classicamente está associada ao Transtorno de Personalidade Antissocial. São aquelas pessoas que desde a infância já apresentam atitudes agressivas, como a de mal tratar animais, destruir objetos de outros, mentir, roubar, etc. Não se sabe exatamente a causa este transtorno. Estima-se que ele esteja presente em torno de 3% da população e que há um somatório da genética com fatores do meio ambiente. Sabe-se, contudo, que é dificilmente tratável. Diferentemente, a agressividade impulsiva se caracteriza por explosões agressivas não planejadas seguidas geralmente pelos sentimentos de culpa, remorso e tristeza. Quando muito frequente é denominada de Transtorno Agressivo Intermitente e costuma trazer problemas nos relacionamentos, envolvimento com a polícia e perdas financeiras. Em momentos da vida em que o sujeito está passando por mais estresse, as manifestações agressivas costumam se acentuar. Nos estados Unidos, estima-se que 5 a 7% da população sejam portadoras deste transtorno e a maioria não busca tratamento. As melhores abordagens terapêuticas combinam psicoterapia e medicação.

Levando-se em consideração o que foi exposto acima, pode-se entender porque em momentos como este que estamos vivendo em nosso país, em que a insegurança é alta e as pessoas se sentem ameaçadas ao sair na rua, assomado ao estresse das dificuldades econômicas pelo qual estamos passando, há um aumento das manifestações agressivas em geral, com pessoas até então pacíficas se envolvendo em linchamentos ou reagindo agressivamente aos assaltos.

Síndrome das Pernas Inquietas

A síndrome das Pernas Inquietas é um transtorno que se caracteriza por uma sensação desagradável nos membros inferiores, gerando a necessidade de movimentá-los. É uma sensação de urgência ou vontade irresistível de mover as pernas. Em geral, aparece ou piora à noite e durante períodos de repouso. Esta sensação cede ou se atenua com o movimento, caminhando ou alongando a musculatura envolvida. É comum haver história familiar, outros membros da família com o mesmo transtorno. O exame físico e clínico das pessoas com esta síndrome não detecta nenhuma anormalidade. Contudo, é frequente a queixa de insônia. Muitas das pessoas acometidas pela síndrome das pernas inquietas não se dão conta de que tem uma doença e acabam não procurando ajuda médica. O tratamento geralmente inclui uso de medicações associado à psicoterapia e costuma ter bons resultados.

Anorexia Nervosa

A Anorexia Nervosa é um transtorno mental que se caracteriza por um medo intenso de engordar. Este medo leva a um comportamento persistente para perder peso, como dietas rígidas e/ou exercícios físicos exagerados, mesmo estando o peso normal. Além disto, o indivíduo tem uma distorção no modo como olha o próprio corpo ou avalia seu peso, achando-se sempre gordo. A anorexia apresenta-se de duas formas diferentes: o tipo  mais restritivo, onde predominam dietas rígidas e jejuns prolongados ou o  tipo mais purgativo, onde ocorrem episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos compensatórios para não engordar. É mais frequente em mulheres e geralmente inicia no final da adolescência ou início da vida adulta.

O exemplo mais comum na anorexia é o da adolescente que inicia uma dieta com o objetivo de emagrecer. Na medida em que vai perdendo peso vai surgindo cada vez mais a necessidade de ficar  magra juntamente com um receio muito grande de voltar a engordar. Mesmo atingindo o peso desejado inicialmente, a adolescente ainda se acha gorda e continua fazendo dieta. Não consegue perceber o quanto já está magra, mesmo quando pessoas próximas falam.  Costuma associar exercícios físicos intensos para obter mais resultados. Em determinados momentos, pode ocorrer uma perda de controle levando a um consumo muito grande de alimentos em pouco tempo, seguido de culpa e medo de engordar. Para aliviar a culpa e o medo, a adolescente recorre a métodos purgativos (formas de eliminar o que comeu), como indução de vômito ou  uso de medicações, geralmente laxantes. O peso ideal nunca é atingido devido à distorção da imagem corporal, achando-se sempre gorda, mesmo quando está esquelética. Qualquer tentativa dos familiares fazê-la comer gera muita irritação e quando come imediatamente utiliza métodos para perder peso.

Frequentemente se acompanha humor deprimido, muita ansiedade e isolamento social. Se não tratada, a anorexia pode levar à morte por infecções secundárias resultante da baixa imunidade gerada pela magreza. O tratamento costuma ser multidisciplinar, isto é, com o auxílio de vários especialistas, como psiquiatra, clínico geral e nutricionista. O uso de medicação também é importante.

Carboidratos refinados podem desencadear dependência à comida.

Carboidratos refinados são aqueles alimentos que, quando ingeridos, desencadeiam um rápido aumento da glicose (açúcar) no sangue. Por esta característica são chamados alimentos de “alto índice glicêmico”. O aumento da glicemia desencadeado pelo consumo destes alimentos tem se tornado um aspecto bastante relevante quando se pensa em dieta. Investigadores do Hospital da Criança em Boston, Estados Unidos, descobriram que, em pessoas com sobrepeso, uma refeição rica em carboidratos de alto índice glicêmico, como batatas, massas, farinhas, por causarem um aumento rápido da glicemia (quantidade de açúcar no sangue), após 4 horas aumentavam mais ainda a fome. Além disto, estes alimentos estimulavam seletivamente regiões do cérebro que influenciavam o comportamento alimentar da próxima refeição fazendo com que os indivíduos comessem mais. Estes achados demonstram que, carboidratos refinados, independente das calorias ou sabor dos mesmos, podem provocar efeitos biológicos semelhantes à dependência. O aumento súbito da glicemia decorrente do consumo destes alimentos causa um efeito semelhante ao uso de uma droga, levando a uma necessidade de cada vez maior ingeri-los.

(Am J Clin Nutr. Publicado online em Junho de 2013).