Transtorno de Ansiedade Social

A timidez, quando muito intensa, a ponto de interferir na vida da pessoa trazendo  prejuízos, pode ser considerada um transtorno: o transtorno de ansiedade social, antigamente chamado de fobia social. O ansioso social evita situações de exposição, desde aquelas mais importantes, como apresentar trabalhos, fazer perguntas em aula, como até situações muito simples, como assinar seu nome na frente de pessoas estranhas, comer em público, pedir informações, etc. Quando expostas a alguma destas situações, a pessoa portadora deste transtorno sente muita ansiedade, acompanhada de sintomas físicos, como coração acelerado, suor, tremores, vermelhidão do rosto, tonturas, náuseas, levando-a a evitar tais situações de exposição. Acabam não apresentando trabalhos, perdendo oportunidades de emprego ou evitando encontros sociais. Atualmente, sabe-se que a ansiedade social é bastante frequente e, geralmente, as pessoas sofrem com seus sintomas por muitos anos sem procurar auxílio especializado (terapêutico), pois não sabem que o que elas têm pode ser uma doença. Consideram-se muito tímidas e se adaptam ao problema. O transtorno de ansiedade social pode ser tratado com terapias específicas e/ou medicações. A terapia mais indicada é a Terapia Cognitivo-Comportamental e geralmente as medicações mais utilizadas são os antidepressivos.

Transtorno Depressivo Maior

O Transtorno Depressivo Maior se caracteriza pela presença de humor deprimido na maior parte do dia, quase todos os dias, por pelo menos duas semanas seguidas. Às vezes, o que mais predomina é a acentuada diminuição do interesse ou prazer em quase todas as atividades. Tudo parece sem atrativo. Trabalhar é pesado e atividades que antes geravam prazer não o  trazem mais. Além destas duas características, as mais importantes, estão associados diversos outros sintomas que corroboram o diagnóstico. Perda ou ganho significativo de peso, insônia ou necessidade aumentada de sono, inquietude, ou vontade de não fazer nada, perda de energia, cansaço, sentimentos ruins, ou de culpa, diminuição da capacidade de pensar e pensamentos recorrentes de morte. Estes sintomas trazem grande sofrimento e prejuízo na vida da pessoa.

A depressão costuma iniciar de forma insidiosa, ou seja, lentamente. A pessoa não percebe que cada dia está mais triste, ou a cada dia as coisas estão mais difíceis, sem graça. Tem mais vontade de chorar e tudo parece igual, sem cor. Se torna mais retraída e os amigos percebem a diferença no seu  comportamento. Acha desculpas para se sentir assim, atribuindo à vida as causas da sua tristeza e acaba não procurando tratamento.

Quando não tratada, a depressão pode melhorar espontaneamente após um período mais curto ou mais logo de tempo, porém geralmente deixa sequelas. A pessoa não volta a se sentir exatamente como antes, ficando pequenos sintomas residuais que facilitam um novo episódio, que por sua vez irá deixar mais sequelas, e assim por diante. Portanto, é fundamental o diagnóstico o mais precoce possível deste transtorno para que, com o uso adequado dos tratamentos disponíveis, evitar-se maior sofrimento emocional e impedir a cronicidade dos sintomas.

Tipos de ansiedade

A ansiedade é saudável. Sentir-se ansioso pode ser muito importante, e algumas vezes, fundamental para o nosso sucesso. Quem estudaria se não estivesse com medo de rodar? A ansiedade em níveis normais nos ajuda a aprender, aumenta nossa concentração, nossa potência. É a ansiedade normal que os animais sentem quando estão ameaçados, e consequentemente se preparam para lutar ou fugir. O corpo responde moderadamente a fim de aumentar seu rendimento. Contudo, mais uma vez, nem sempre é assim. Às vezes sentimos ansiedade sem motivo, ou existe um motivo, mas a ansiedade é desproporcionalmente exagerada. Ela, a ansiedade, não contribui. Atrapalha. Faz o coração bater forte, suarmos, tremermos. Deixamos de fazer coisas, pois nos sentimos mal. É o que poderia se considerar como uma ansiedade patológica.

Esta ansiedade patológica está dentro de um grande grupo de transtornos, chamados Transtornos de Ansiedade. Estes, manifestam-se de várias formas, sendo que cada tipo tem uma designação específica dentro da psiquiatria.  Quando são ataques súbitos, de início rápido, com muitos sintomas físicos e pensamentos catastróficos, chamamos de pânico. Quando a ansiedade se manifesta apenas em situações em que temos que nos expor socialmente, isto é, falar ou comer em público, parar numa fila, assinar um cheque, chamamos de ansiedade social. Também pode ser uma ansiedade constante, que nos faz nos sentir como uma corda de violão esticada: reagindo a qualquer coisa, brigando, passando mal. É o que chamamos de ansiedade generalizada. E assim por diante. Porque todas estas divisões? Porque especificar cada tipo? Bem, é muito importante o diagnóstico adequado e preciso do que realmente iremos tratar, pois os tratamentos variam enormemente e são específicos para cada uma das ansiedades. Não se trata uma ansiedade social da mesma forma que uma síndrome do pânico. Assim, em primeiro lugar, precisamos fazer uma avaliação completa da pessoa que nos procura por ajuda, determinando com a maior exatidão possível o que ela sente e qual é o seu problema, para aí então falarmos de tratamento. Atualmente contamos com muitos recursos terapêuticos ao nosso alcance. Existem vários tipos de terapia, cada uma delas voltada mais especificamente a um tipo de transtorno; além de um arsenal considerável de medicações, cada vez mais eficazes, com menos efeitos colaterais e riscos.

Cannabis e alterações cognitivas.

Os efeitos da maconha (cannabis) sobre o cérebro podem ser divididos em dois: os agudos e os residuais. Os efeitos agudos são aqueles associados com a intoxicação no momento em que se faz o uso da mesma e manifestam-se como alterações do humor, da percepção e perda cognitiva, isto é, dificuldade para pensar.  Mesmo tendo-se a sensação de bem estar há uma alteração intensa na capacidade de raciocínio e crítica. Os efeitos residuais podem ser devido ao acúmulo da cannabis no sistema nervoso central e que duram horas ou dias após a intoxicação aguda. Assim, mesmo cessando os efeitos agudos causados pela intoxicação, as alterações cognitivas decorrentes do uso podem se manter por mais de 7 dias. Em abusadores, isto é, pessoas que fazem uso de maconha 7 ou mais vezes na semana, os cannabinóides podem permanecer no corpo por mais de um mês após cessar o uso.

Avanços no conhecimento das doenças mentais

Nestes últimos anos, a depressão e os transtornos de ansiedade, como o pânico e a fobia social, tem ocupado um bom espaço na mídia em geral. Todos já ouvimos sobre estes assuntos em revista, jornais e até artistas estão assumindo que já sofreram de algum transtorno mental. Isto é muito bom, pois diminui o tabu a respeito destas doenças, facilitando com que as pessoas as identifiquem e procurem ajuda. Mas toda esta mídia em cima destes transtornos está diretamente ligada às modificações que a medicina sofreu nestes últimos anos na área da psiquiatria. A década de 90 foi considerada a década do cérebro. Terminamos a década do cérebro e estamos iniciando a década da biologia molecular. Conhecemos as células e agora buscamos os gens. Nas décadas de 70 e 80 houve um grande avanço no conhecimento de como o cérebro funcionava. Descobriu-se que os neurônios, as células que constituem a base do nosso sistema nervoso central, se comunicavam através de mediadores. Isto é, substâncias químicas que eram liberadas por uma célula e que ao chegarem à outra modificavam o funcionamento desta segunda célula, e o resultado disto era  uma modificação do nosso humor, por exemplo. Assim, definiu-se melhor como nosso humor poderia ser modificado: através destes mediadores, os quais muitos de nós já ouvimos falar: serotonina, noradrenalina, dopamina, opióides e muitos outros. A partir destes conhecimentos foi possível desenvolver-se novas medicações que são usadas não só para o alívio dos sintomas como para o tratamento destes transtornos.

Maconha e o cérebro

Um estudo apresentado no encontro anual da Sociedade de Medicina nuclear e de imagem, em 2015, mostrou o impacto do uso de Cannabis (maconha) no cérebro.  Neste estudo, viu-se que usuários pesados de cannabis (aqueles que usavam maconha quase diariamente) apresentavam uma diminuição da transmissão dopaminérgica em várias regiões do cérebro . A dopamina é um neurotransmissor responsável por várias atividades cerebrais. Alterações nestas transmissões estão envolvidas na manifestação de vários transtornos mentais. Especificamente, o que se observou com os usuários de Cannabis, é que esta diminuição da transmissão dopaminérgica levava a um prejuízo do aprendizado e da memória.

Lítio

O carbonato de lítio é o mais antigo estabilizador de humor utilizado para o tratamento do Transtorno de Humor Bipolar. Sua ação “calmante” foi descoberta por acaso em 1949. A partir desta observação, o lítio foi testado em pacientes maníacos com melhora acentuada dos seus sintomas. Atualmente o lítio é indicado tanto para a fase maníaca do Transtorno Bipolar como a depressiva, sendo também muito eficaz na fase de manutenção do tratamento. É considerado um dos melhores estabilizadores de humor disponíveis.

Uma vez ingerido, é rapidamente absorvido e sua eliminação do corpo se faz através dos rins. Assim, pessoas com doenças renais e idosas devem ter um maior controle no seu uso.

Devido a algumas características do lítio, antes de iniciar o uso, recomenda-se uma avaliação clínica, especialmente da função da tireoide e renal. A dose terapêutica varia muito de pessoa para pessoa, porém o controle da mesma deve ser realizado através da dosagem no sangue. A coleta do sangue deve ser feita 12 horas após a tomada da última dose. O tempo decorrido entra o uso do lítio e a coleta do sangue  é muito importante  para a fidedignidade do resultado. Uma dose muito alta pode levar à intoxicação, que se apresenta com náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, tremor grosseiro, etc. Uma vez que o lítio não está presente em nosso organismo normalmente,  o resultado da sua dosagem, quando não se faz uso desta medicação, será muito baixa ou indetectável, o que não deve ser confundido com “falta de lítio no corpo”.

O lítio pode ser utilizado em crianças ou em grávidas após avaliação criteriosa do médico. Como ele é excretado no leite, a amamentação também deve ser bem avaliada.

Depressão, perda cognitiva e acidente vascular cerebral (AVC).

Por muitos anos se reconhece a relação entre transtorno depressivo e perda cognitiva em idosos. O idoso, ao se deprimir, parece estar demenciando. Este comprometimento cognitivo melhora com o tratamento da depressão e por isto é chamada de “pseudodemência”. Os pacientes com depressão importante após um Acidente Vascular Cerebral (isquemia ou derrame cerebral) apresentam um comprometimento cognitivo maior do que aqueles pacientes pós-acidente cerebral vascular sem depressão, mesmo que as lesões destes AVCs forem equivalentes em localização e tamanho. Nestes casos, o tratamento bem sucedido da depressão pode constituir um dos principais métodos de recuperação cognitiva pós-AVC.

Depressão

Mudanças de humor são normais. Às vezes nosso humor se altera durante o dia, ou durante a semana. Se nos acontece algo bom, ficamos felizes; se nos acontece algo ruim, nos deprimimos. Isto é o normal.  Variações atenuadas do modo como nos sentimos faz parte da nossa relação com o mundo. Mas nem sempre é assim. Às vezes o humor fica para baixo, não muda mesmo com os bons acontecimentos. Às vezes, a vida continua a mesma, mas não nos sentimos mais felizes. Aquilo que um dia tinha graça deixou de ter; coisas que gostávamos de fazer deixaram de ser prazerosas. Tudo ficou mais difícil, sentimos angústia, não dormimos nem comemos mais direito. Estamos, então, com o que chamamos de depressão. Algumas vezes a depressão é mais mascarada. Há um aumento do sono, do apetite e não chegamos a nos sentir tristes, mas muito irritados. São formas diferentes de como a depressão aparece.

Às vezes os sintomas da depressão são bem característicos e fáceis de serem diagnosticados. Outras vezes, a depressão é mais atípica, diferente, e requer mais cuidado para se ter um diagnóstico. Pode predominar a anedonia, isto é, o desânimo e a falta de vontade para fazer qualquer coisa. Não só o trabalho, mas o lazer também. Não infrequentemente as pessoas pensam: isto vai passar, este meu desânimo é só porque as coisas estão difíceis para todo mundo e postergam a procura de tratamento. Ou sentem vergonha de irem a um psiquiatra. E a doença avança, mudando a vida da pessoa, modificando seus relacionamentos, enfim, trazendo vários prejuízos. Sem falar na possibilidade dos sintomas ficarem tão intensos e o sofrimento ser tão grande que a única alternativa visualizada é a morte. Quanto mais tardio o diagnóstico, mais difícil pode ser o tratamento.

Porque falar sobre a mente e o cérebro

O que você gostaria de saber sobre a mente e o cérebro? Envie sua dúvida ou pergunta para lnresposta@gmail.com, que responderei.

Nossa mente e nosso cérebro sempre foram, e continuam a ser, motivo de grandes enigmas e curiosidades. Muito se descobriu a respeito do funcionamento cerebral nos últimos 20 anos e compreender este funcionamento nos ajudou a compreender melhor nossa mente. Paralelamente, muitas mudanças ocorreram nos tratamentos farmacológicos. O cérebro é responsável por tudo o que acontece em nossa mente. Quando o cérebro adoece, nossa mente adoece. Quando nossa mente sofre, nosso cérebro sofre. Tratar a mente é tratar o cérebro e tratar o cérebro é tratar a mente. Assim, um não pode ser pensado sem o outro.

O que busco aqui é oferecer um pouco de informação sobre ambos: a mente e o cérebro, baseada nas frequentes perguntas que me fazem e na percepção de que muitas pessoas gostariam de entender melhor como isto funciona. Esclarecer em uma linguagem acessível  algumas dúvidas sobre doença mental e seu tratamento. Divulgar informações atualizadas na área da psiquiatria de forma simples.

Abaixo de cada título você pode deixar sua opinião sobre o texto e fazer alguma pergunta a respeito do mesmo.